‘2024 foi o ano mais difícil para a SAAP’, diz presidente da associação
Há quase 30 anos a psicóloga aposentada Maria Helena Bueno faz parte da SAAP. De 2009 a 2019, presidiu a associação, função que voltou a assumir em 2023 e para qual foi reeleita na assembleia ordinária de 17 de março. É com a experiência de quem esteve à frente dos avanços e dos desafios da entidade por tanto tempo que ela afirma: nenhum período foi tão difícil para a diretoria quanto 2024.
No ano passado, o caráter estritamente residencial de Alto dos Pinheiros esteve sob ameaça várias vezes. Algumas diretamente, nas votações sobre zoneamento. Outras, de forma indireta, como nos planos de construir um viaduto que escoasse o trânsito de quem chega a São Paulo pela rodovia Raposo Tavares.
“Essa tentativa de adensar nosso bairro impactaria o trânsito de uma maneira sem solução, pois nossas ruas são bem estreitas”, afirma Maria Helena em entrevista ao site da SAAP. Na conversa, ela fez um breve balanço dos desafios enfrentados em 2024. Leia abaixo os principais trechos.
Como foi o 2024 para a SAAP?
Olha, de todos os anos em que eu estou na SAAP, desde 1997, 2024 foi o mais difícil, o mais desafiador para a diretoria.
Por quê?
Tivemos dois assuntos extremamente importantes. Um, zoneamento. Houve muitas audiências desde 2021 que culminaram na mudança de zoneamento da Marginal Pinheiros, e pela primeira vez nós tivemos que entrar no Ministério Público. Outro foi, em abril, de repente, ficar sabendo pelos jornais de uma ponte que iria desaguar no bairro, como saída da Raposo Tavares. Mas esse foi um assunto até que resolvido satisfatoriamente.
E ainda teve outro assunto, o 20º leilão do Hospital Panamericano, um processo que durou mais de 13 anos. Quando o novo proprietário foi confirmado, os moradores do entorno começaram a querer saber o que iria acontecer. Fizemos uma reunião na SAAP com o presidente da Cia. City e com o dono da companhia que comprou o hospital. O projeto é extremamente moderno: prevê um prédio baixo, nem parece um hospital. Está dentro das regras de implantação. Os moradores não gostaram muito, não queriam que fosse hospital. Mas o zoneamento da área permite apenas serviços voltados ao público, como faculdade, quartel, hospital etc. Dentro de tudo o que pode, hospital é o menos nocivo para um bairro residencial. Terá ambulância, mas não será aquele tipo de hospital em que toda hora chega alguém acidentado. Isso é o que a gente está pedindo: Nossas ruas não comportam esse tipo de movimento.
Desses três grandes casos, pode-se dizer que em um a SAAP conseguiu fazer com que o interesse dos moradores fosse atendido, que é o caso da Raposo. No hospital também, embora os detalhes ainda estejam para ser acertados. Mas há um caso mais difícil, que é o do zoneamento. Por que é tão difícil preservar as características residenciais de Alto dos Pinheiros?
Todos os planos diretores tinham inúmeras audiências, e nós estivemos presentes em todas elas, sempre. Levávamos documento, pedíamos para falar, além de conversar com os vereadores particularmente, em seus gabinetes. Nunca havíamos tido ameaça de mudança substancial no bairro. Mas da pandemia para cá foram três regulamentações de zoneamento: a Lei de Zoneamento e mais duas mudanças nessa mesma lei. E nas três ocasiões as mudanças foram votadas à noite, de última hora. E nessas retificações, lá veio o vereador Isac Félix colocar a emenda que muda o zoneamento da Marginal Pinheiros. Isso foi no último dia de votação, às 23h30. Tivemos que entrar no MP, que pediu liminar e o Tribunal de Justiça deu, suspendendo a alteração. Mas ainda estamos esperando os julgamentos. Então, está aí uma espada na nossa cabeça, uma mudança radical num bairro de 5 mil casas.
A pressão por um adensamento maior, para a construção de prédios, existe há muito tempo. Por que aumentou mais intensamente nos últimos anos?
Essa tentativa de adensar o nosso bairro, ultimamente, além de ser totalmente prejudicial às residências que seriam vizinhas de prédios, impactaria o trânsito de uma maneira sem solução, pois nossas ruas são bem estreitas. Já há alguns anos Alto dos Pinheiros está muito cobiçado por condomínios de casas. Muitos condomínios estão sendo construídos onde havia casas à venda, sem ninguém morando. O que era um problema agora está deixando de ser. O bairro está repleto de condomínios com quatro casas, seis casas, muito bem construídos. São casas de 300 a 600 metros quadrados. Então, o bairro está se renovando, sempre com caráter residencial, pois temos o potencial de transformar grandes casas em condomínios com casas que refletem a vida das famílias de hoje.
E o caso da Raposo Tavares? O projeto previa um viaduto em Alto dos Pinheiros, mas isso foi alterado após pressão dos moradores. As demandas foram atendidas?
Do nosso lado, conseguimos tirar a ponte. Fizemos um projeto com a Casa do Bandeirante, para a ponte sair de Alto dos Pinheiros e ir para a avenida Politécnica. Eles aceitaram. No projeto atual, a ponte está saindo da avenida Politécnica e caindo na Marginal Pinheiros do nosso lado, em frente ao parque Villa-Lobos, em direção à zona Norte. Mas do outro lado da Marginal a batalha continua. A nova concessão quer fazer uma pista a mais de cada lado da Raposo – seis pistas virariam oito – , colocando ônibus nas pistas novas e pedágio no meio. Para fazer essas pistas novas, será necessário tirar algumas árvores, algumas casas, algum comércio. E isso os moradores daquelas regiões não aceitam. E, realmente, não tem o menor sentido aumentar estrada para colocar mais carros, quando deveria estar colocando metrô ou VLT. Não sei como isso vai terminar, mas as associações de moradores estão fazendo uma campanha enorme para não deixar fazer a quarta pista. A SAAP concorda com a campanha, pois a ideia é diminuir o uso de carro e usar os coletivos em toda a cidade para melhorar o clima e a saúde de todos.