22 de setembro de 2013

Plano Diretor pode colocar em risco bairros residenciais

Gazeta de Pinheiros, 20/09/2013, por Diego Gouvêa

Jardins, Alto de Pinheiros, City Butantã e Pacaembu estão entre as áreas sujeitas a mudanças

Bairros -jardins têm valor histórico e inegável contribuição ambiental para a metrópole, afirmam associações / Grupo 1 de Jornais

Bairros -jardins têm valor histórico e inegável contribuição ambiental para a metrópole, afirmam associações / Grupo 1 de Jornais

A minuta do novo Plano Diretor Estratégico (PDE), que será encaminhada nos próximos dias à Câmara Municipal, gera receio por parte dos moradores de bairros antigos como Alto de Pinheiros, Jardins e Pacaembu. Eles afirmam que o projeto não esclarece dúvidas quanto a mudanças nos zoneamentos e pode descaracterizar áreas residências. Segundo a Associação dos Amigos do Alto dos Pinheiros (Saap), a proposta do planejamento urbano permite brechas para que o perfil dos bairros seja alterado. “A minuta propõe que as Zonas Estritamente Residenciais sejam denominadas Zonas Especiais de Ocupação Restrita, retirando o adjetivo ‘Estritamente’ do título original, o que já denota uma mudança conceitual na definição do bairro”, afirma a presidente do conselho da entidade, Ignez Barreto.

Quem também questiona o PDE é o diretor-executivo da Associação de Moradores dos Jardins (AME Jardins), João Maradei. “O PDE deixa uma série de dúvidas, inclusive sobre a utilização das vias que circulam os bairros estritamente residenciais, havendo risco de se reproduzir em ruas internas o que se permitiu em grandes avenidas, sem haver expressamente nesse projeto uma proteção adequada”, diz.

O estímulo ao adensamento populacional na região é outro ponto criticado pelas associações. Para Ignez Barreto, há contradições neste item do projeto. “Um dos artigos prevê a manutenção do zoneamento restritivo em áreas residenciais; porém, ‘com corredores e áreas de comércio e serviços’. A organização do transporte público vai além do mapeamento das vias, é crucial e amarra muitas questões”, diz ela.

A contestação da conselheira da Saap é feito com base em um dos principais objetivos do novo PDE, que visa o estímulo do adensamento populacional próximo aos corredores de ônibus e linhas de metrô, a fim de equilibrar a relação entre oferta de empregos e moradia na cidade.

Alto de Pinheiros e outros bairros da região são caracterizados por suas vias arborizadas / G1J

Alto de Pinheiros e outros bairros da região são caracterizados por suas vias arborizadas / G1

Participação Popular

Além de supostas incoerências, o PDE também é criticado quanto a sua abertura para o debate da população. “Um projeto dessa complexidade não pode ser apresentado e ser marcada audiência pública para sua avaliação em poucos dias. Não há tempo hábil de se analisar os artigos afetos aos bairros residenciais e levar ao conhecimento dos moradores conceitos que, por vezes, não são do dia a dia dos paulistanos”, contesta João Maradei.

O diretor do Movimento Defenda São Paulo, Luiz Carlos Costa, afirma haver a necessidade de mais discussões sobre o projeto. “É indispensável um curto período suplementar para que alguns aspectos sejam esclarecidos pela administração municipal. Mas, a nosso ver, não ocorrerá se não for alterado o processo restritivo de participação popular, que visa o envio imediato das propostas à Câmara”, aponta ele, que é professor de Planejamento Urbano da USP.

João Maradei afirma que a preservação dos bairros residências é vital para a cidade. “Tememos, sim, pelo futuro destas áreas, com valor histórico e de inegável contribuição ambiental para a metrópole. Hoje, o mercado imobiliário é o mais beneficiado neste processo, que esperávamos ser apartidário”.

‘Bairros-jardins’

Jardim Europa, Jardim América, Alto de Pinheiros, City Butantã, Pacaembu e Alto da Lapa são alguns dos bairros planejados pela Companhia City, empresa inglesa que participou da organização urbana de São Paulo na primeira metade do século 20.

Estas áreas foram desenvolvidas de acordo com o conceito ‘bairro-jardim’, que inclui ruas de traçado sinuoso, calçadas largas, alamedas e praças para estimular a interação entre vizinhos. Os códigos construtivos em vigor foram definidos na década de 1970, após a viabilização dos projetos da Companhia City. Antes, não havia regulamentação para uso e ocupação do solo na cidade.

O primeiro bairro lançado foi o Jardim América, em 1915. Até a empresa inglesa chegar à capital paulista, regiões próximas do Rio Pinheiros eram consideradas poucas promissoras pelo mercado imobiliário, pois estavam distantes em relação ao centro. Hoje, locais como Alto de Pinheiros, City Butantã e Pacaembu estão entre os mais valorizados de São Paulo.

Leia mais sobre o PDE e as posições das diversas entidades.