Bairro recebe incentivo para intensificar coleta e reciclagem de bitucas
Quantos fumantes há em Alto dos Pinheiros? Difícil saber. Somos cerca de 40 mil habitantes. Numa conta simples (certamente imprecisa), se valerem para o bairro as cifras do Sudeste da pesquisa mais recente sobre tabagismo no Brasil, 15% são fumantes – ou seja, 6 mil. Se cada um deles consumir 10 cigarros por dia, nossa região gera 60 mil bitucas todos os dias. Imagine quantas vão parar na rua ou no gramado das praças…
Uma parceria firmada recentemente pela SAAP busca incentivar que se dê o melhor destino possível a esses resíduos: a reciclagem. Fechamos um acordo com a maior empresa desse ramo no país, a Poiato Recicla. Ela instala e mantém caixas coletoras de bituca, recolhe o material periodicamente e leva-o para uma usina de reciclagem, onde ele é descontaminado e transformado em massa celulósica, utilizada em oficinas de arte e na produção de papel artesanal.
O acordo envolve dois pontos principais. Toda Empresa Amiga do Bairro que contratar os serviços da Poiato ganhará um mês de graça. Além disso, a cada dez coletores instalados em empresas ou condomínios por indicação da SAAP, o bairro receberá um coletor, sem custos, para ser instalado em locais públicos, como ruas e praças.
Em Alto dos Pinheiros, há coletores em duas praças: Província de Saitama e Vicentina de Carvalho. O serviço foi contratado pela SAAP após os moradores do entorno terem se proposto a arcar com os custos. Em média, são recolhidas entre 800 e mil bitucas por mês em cada uma dessas praças.
Por que a bituca é um GRANDE problema ambiental
A ligação entre cigarro e doenças já é bem conhecida. Mas poucos têm conhecimento de que o produto também prejudica enormemente o solo e os ecossistemas aquáticos.
- Passa despercebida: afinal, são só uns 4 ou 5 centímetros… Mas lembra-se dos famosos vilões dos mares e rios, os canudinhos e as sacolas plásticas? Não são o problema principal. O tipo mais comum de lixo recolhido em oceanos, por exemplo, são as bitucas: campanhas de limpeza apoiadas pela ONG Ocean Conservancy recolhem anualmente cerca de 2 milhões de bitucas – colocadas em fila, elas formam 200 quilômetros.
- É tóxica: uma bituca de cigarro contém cerca de 7 mil substâncias tóxicas, aponta um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS); entre elas, nicotina, arsênico e metais pesados prejudiciais a animais aquáticos e plantas.
- Demora a se decompor: em média, uma bituca leva cinco anos para se degradar. “É um produto tóxico que permanece muito tempo no meio ambiente”, resume o diretor da Poiato Reciclagem, Marcos Poiato.
- Pode causar incêndios: sobretudo em épocas secas, como outono e inverno, uma bituca jogada em área verde tem potencial de iniciar um fogaréu. Segundo o governo de São Paulo, é uma das principais responsáveis por queimadas à beira das rodovias.
São fatores como esses que fazem a Poiato organizar e apoiar, regularmente, palestras, exposições e oficinas de arte destacando os problemas ambientais do cigarro.
Como é feita a reciclagem
A Poiato Reciclagem usa uma tecnologia desenvolvida na Universidade de Brasília (UnB) que envolve processo químico e cozimento. Isso elimina a toxidade das bitucas (assista ao vídeo que resume o processo). Acelera-se a decomposição do acetado de celulose, usado no filtro do cigarro, e ele é transformado em papel artesanal, levado a várias instituições.
“Captamos água de chuva, tratamos e reusamos a água. É um processo que não gera resíduo”, diz Marcos Poiato.
Entendeu por que é importante jogar bitucas não no chão, mas nos coletores? Coletores que, esperamos, serão em número crescente no bairro.